Jethro Tull – “The Zealot Gene” (2022)

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Jethro Tull – “The Zealot Gene” (2022)
Inside Out Music
#ProgressiveRock, #Folk, #ClassicRock

Para fãs de: Genesis, Yes, Rush, Wishbone Ash

Nota: 8,0

Se passaram quase vinte anos para que o flautista mais icônico do rock, Ian Anderson, decidisse lançar material novo apelando para um rótulo com muito mais apelo comercial. Após cinco anos de preparação, “The Zealot Gene” foi oficializado como vigésimo segundo trabalho de estúdio do Jethro Tull.

Na verdade, trata-se de mais um lançamento solo de Ian, que afirma ter se utilizado da marca como retribuição aos músicos que o acompanham nos últimos projetos e que mereciam colocar em seus currículos terem participado de um álbum com o nome de uma das mais consagradas bandas do rock progressivo estampado na capa.

Nenhum problema. Jethro Tull nunca foi, de fato, um grupo com atribuições e talentos igualitariamente divididos. Sempre foi a marca usada por Ian para externar e vender sua obra pessoal. Sem menosprezar, é claro, a importância do talentosíssimo parceiro e agora provável desafeto guitarrista Martin Barre, o único a participar de toda a trajetória do grupo (com exceção do primeiro álbum) mas que não foi convidado para esse retorno. É justo que Ian usufrua (e lucre) em cima da sua marca mais famosa quando achar necessário, além de ficar mais coerente do que, por exemplo, lançar um “Tick As A Brick 2” como artista solo, como ele fez em 2012.

Mas muito mais importante que um rótulo é o conteúdo. E havia receio se “The Zealot Gene” mereceria a honra de fazer parte da discografia de quem já fez “Aqualung”, “Songs From The Wood”, “Heavy Horses” e outros clássicos. Ainda mais sem a presença de Barre!

A resposta é que sim, “The Zealot Gene” chega lá!

Tudo o que um admirador espera está aqui. Aquela mistura de hard rock com folk e música celta, com Ian usando a flauta com seu estilo inconfundível. Lembrando que pode até ser classificado sim como rock progressivo, mas é muito diferente de Yes e Genesis porque não há foco em teclados e passagens sinfônicas.

Apesar de não ser conceitual, a temática em geral foi inspirada em passagens bíblicas. Aparentemente não se trata de uma visão necessariamente crítica à fé em si, mas ao modo que o Homem cria religiões e espelha seus deuses a sua imagem e semelhança – defeitos incluídos involuntariamente. Um momento muito interessante nesse sentido é “Mine Is The Mountain”, com a letra tão cômica, com seu Deus de Monty Phyton, que a princípio pode soar profana, mas a crítica na verdade é sobre os humanos que assim idealizam a divindade que optam por adorar.

Musicalmente, o clima no geral é próximo do estilo dos anos 70, com exceção da faixa de abertura “Mr. Tibbets”, que conta com alguns teclados oitentistas que a deixam altamente radiofônica e empolgante. Há sim alguns riffs e levadas mais pesadas, como nas ótimas “Shoshana Sleeping”, a faixa título e “Barren Beth, Wild Desert John”, essas três que devem agradar a quem quer um pouco mais do lado hard rock. Por falar em guitarras, outro grande momento ocorre também em “The Betrayal Of Joshua Kind”, com um solo memorável de Florian Opahle.

O lado folk tem mais destaque na segunda metade. “In Brief Visitation” é lindíssima, um daqueles duetos entre violão e flauta que ninguém sabe montar tão bem quanto Ian! Já “Thre Loves Three” tem até um pouquinho de Tom Petty e Travelling Wilburys na receita.

O resultado só não é perfeito devido a voz estar bastante limitada pela idade e problemas que vem já há mais de trinta anos. Mas ele soube adaptar o estilo das canções a essa limitação: mais sussurrar do que cantar seria um problema grave em outras bandas, mas quando se trata de um performer que sempre esteve muito próximo de ser um contador de histórias, um menestrel moderno, isso não é incontornável.

“The Zeatlot Gene” já pode ser incluído nas listas de melhores do ano. Independente de gosto e se você ainda tem algum preconceito, entenda que a relação do Jethro Tull com o metal vai muito além do famigerado Grammy em 1989, quando “Crest Of A Knave” recebeu o bizarro prêmio de melhor performance de hard rock/heavy metal, vencendo o Metallica com seu “And Justice For All”. Se houve uma banda que ensinou e popularizou como mesclar riffs com música celta e folk foi essa aqui. O Rainbow também fez isso de forma igualmente brilhante, é verdade, mas veio depois. E ainda num trabalho lançado em pleno 2022 é possível perceber claramente a imensa influência que aparece refletida em inúmeras bandas de metal, sendo o mais notório caso ninguém menos que o Iron Maiden (se você conhece bem irá certamente perceber as semelhanças nas passagens mais pesadas, em que é possível até imaginar o Steve Harris curtindo).

Ainda que rock progressivo não seja o seu estilo, se você quiser dar uma pausa na porradaria e quebradeira maravilhosas que o nosso som pesado proporciona aos ouvidos, recomendo muito não só esse novo disco mas uma repassada em toda a discografia.

Sérgio Henrique dos Santos

 

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