Mike Tramp – “Second Time Around” (2020)
Mighty Music
#ClassicRock, #SouthernRock
Para fãs de: Conny Bloom, Electric Boys, Ron Keel
Nota: 8,5
No dia 14 de março de 2008, o White Lion lançou seu quinto trabalho de estúdio, “Return of the Pride”. Da formação clássica, responsável pela trinca “Pride” (1987), “Big Game” (1989) e “Mane Attraction” (1991), apenas o vocalista Mike Tramp seguia a bordo. Quando chegou a hora de produzir um sucessor para “Return”, Tramp desmanchou a banda, mantendo ao seu lado apenas o baixista Claus Langeskov, e o que seria o sexto álbum do White Lion viu a luz do dia em 5 de outubro de 2009 como “Mike Tramp & The Rock ‘N’ Roll Circuz”.
Avancemos para 2020. Nesse ínterim, Mike lançou outros seis discos solo, e “Circuz” acabou saindo de catálogo, tornando-se joia rara na mão dos colecionadores. Por que não dar nova chance a esse material, mesmo que não na íntegra, através de uma regravação melhorada e mais condizente com o momento atual da carreira do artista? É o que Tramp faz em “Second Time Around”, liberado nas plataformas digitais no último dia 1º. Repare que o nome do álbum já entrega o conteúdo: o que temos aqui são, basicamente, novas velhas canções. Dez das treze originalmente lançadas em “Circuz”, para ser exato.
O time que entra em campo é quase todo o mesmo de onze anos atrás: coassinando a produção e adicionando uma guitarra aqui outra ali, Søren Andersen; na bateria, Morten Hellborn; e Langeskov segue no baixo. A novidade fica por conta do guitarrista Oliver Steffensen, cuja primeira aparição foi em duas faixas de “Stray from the Flock” (2019), último disco de inéditas de Tramp. Em “Second”, o cara assume o papel de braço direito e é responsável por todas as guitarras solo. Uma série de convidados especiais acrescenta novos ingredientes à receita, como o violonista flamenco Marcus Nand na irresistível “Back to You”.
Ainda que a roupagem classic rock com forte acento southern, estradeira, até meio classe operária, seja um barato de se ouvir, o diferencial está no dom que Mike tem para contar histórias – mesmo que seja a sua – e manifestar emoções universais a partir de conteúdos essencialmente autobiográficos. “Aqueles que você pensou que eram seus amigos apunhalaram você pelas costas”, canta ele em “All of My Life”, talvez a mais ‘sincerona’ de todas. Quem nunca passou por isso? A identificação é imediata. Em “Between Good and Bad” a inspiração vem do Thin Lizzy; “Jailbreak” manda lembranças.
Não sei se o melhor, mas o momento de maior carga emocional fica para o fim, com a derradeira “When She Cries”, que Tramp compôs no dia em que sua filha Isabel nasceu, em 2005. Os ecos de “When the Children Cry”, hit supremo do White Lion, vão além da mera semelhança no título. Totalmente conduzida por um dedilhado de violão, a música traz uma das melhores performances da carreira do vocalista. Tá liberado chorar, ok?
Se o segredo dos que triunfam é realmente começar sempre de novo, está mais que provado que Mike Tramp é daqueles que aprenderam a enxergar os obstáculos como incentivos para seguir na luta. E a cada vitória, somos nós, leais ouvintes, que ganhamos o cinturão. Ótimo lançamento.
Marcelo Vieira