Nightwish – “Human :II: Nature” (2020)

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Nightwish “Human :II: Nature” (2020)
Nuclear Blast
#SymphonicMetal#SymphonicPowerMetal

Para fãs de: EpicaDelainAfter Forever

Nota: 10

Fosse a música uma Universidade, os finlandeses do Nightwish resolveram dar o braço a torcer e aceitar o resultado do teste vocacional feito anos atrás quando a banda era um adolescente vestibulando: abandonaram a complicada cadeira de Biologia que foi mais um amor de verão do que uma vocação, cursada durante o fraco “Endless Forms Most Beautiful”. Nesse ano letivo, se matricularam em Antropologia, já pensando no título da dissertação de mestrado: “As relações entre as culturas humanas, o mundo ao redor e a natureza”. “Human :II: Nature”, o nono disco do sexteto, foi feito com a mente de Tuomas Holopainen renderizando em 100% de sua capacidade, sabendo explorar o melhor dos três vocalistas Troy, Floor e Marco e entregando uma obra que consegue se conectar perfeitamente com o ouvinte, balanceando inteligência, sofisticação e originalidade.

“Music” abre o disco duplo de maneira grandiosa, com uma melodia intensa e profunda, mostrando a evolução e versatilidade notável de Floor Jansen. Já “Noise” é aquele tapa na cara da sociedade hiperconectada, com um riff de teclado que lembra a abertura de Game of Thrones e letra que poderia ser um roteiro de “Black Mirror”. Já fica claro que os pontos fortes do disco são o formidável trabalho das vozes, as melodias que tanto notabilizaram a banda, e os arranjos de piano e suas variações. Mas mais do que isso, a história e a intenção do álbum transparecem nas faixas, uma ode ao progresso humano desde as cavernas até os dias de hoje. Uma aventura musical que é perfeitamente aceitável dentro do grande leque semântico que a banda abriu lá no primeiro disco e já desfilou por diversos temas até desembocar aqui.

“Shoemaker” massageia a memória de quem cresceu com os agudos da Tarja no ouvido. Finalmente, depois de anos a fio, o Nightwish voltou a usar os poderosos agudos líricos. “Pan” inicia com os teclados que lembram um pouco “Imaginaerum” e o grande destaque é o coro que reitera os bons momentos relacionados ao canto no disco. Por outro lado, as guitarras mais uma vez se restringem à riffs e escassos solos. Até mesmo as criticadas flautas de Troy diminuíram sua presença, sendo que o inglês foi muito melhor aproveitado como vocalista em “Harvest”, a ala dos agricultores do grande desfile de “Human :II: Nature”. Como Tuomas explicou, o disco 1 é o lado “Human” da história, e o disco 2 é o lado “Nature”. Sobre essa segunda parte, trata-se de uma música instrumental apenas chamada “All The Works Of Nature Which Adorn The World” que é dividida em 8 partes com destaques para ocasiões em que o violoncelo lembra Apocalyptica e o final com a declamação do famoso texto do cientista Karl Sagan chamado “Pale Blue Dot”. Ademais, poderia ser um pouco menor e não se compara com a parte 1.

Quem acha que o disco é sobre a humanidade deteriorando a natureza, engana-se redondamente. O clima é sempre positivo e esperançoso. “How’s The Heart”, por exemplo, a remanescente da pegada folk de Troy, tem um refrão bonito e sensível, enquanto “Tribal” é uma das que mais surpreende com Kai Hahto transformando sua bateria em um instrumento de conexão com o religioso e Marco Hietala interpretando uma espécie de oração primitiva. Já “Procession” começa com uma ambientação eletrônica ancorada no sintetizador, mas logo se revela uma espécie de balada, ou pelo menos é a que mais chega perto de cumprir esse papel no disco. Por fim, “Endlessness” foi a escolhida para Marco brilhar sozinho, mas sem a agressividade típica de seus vocais e sim com uma suavidade que embala a música e emociona quem estava ávido por ouvir a voz do gigante barbudo.

Ao abandonar o rio que passou em sua vida e se entregar de corpo e alma em uma história grandiosa e que vale a pena ser contada, Tuomas acertou a mão e explorou o melhor dos seus companheiros de banda (com exceção novamente de Emppu). O elemento principal, no entanto, a ser destacado aqui, é a coragem, a ambição e a ousadia de entregar músicas diferenciadas, que fujam bastante de uma estrutura quadrada, algo que “Imaginaerum” soube fazer com maestria e que, agora, fez-se presente novamente. Por fim, para reflexão, fica a frase declamada em uma das 8 faixas do disco dois, escrita por Lord Byron em 1826: “Amo não menos o homem, mas mais a natureza”.

Gustavo Maiato

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