Venom – “Prime Evil” (1989) (Relançamento 2025)
Under One Flag | Dynamo Records | Classic Metal Records
#HeavyMetal #BlackMetal #SpeedMetal
Para fãs de: Razor, Possessed, Sodom, Destruction, Kreator
Texto por Johnny Z.
Nota: 8,5
Lançado originalmente em 1989, “Prime Evil” é, sem dúvida, um dos álbuns mais controversos — e subestimados — da longa carreira do Venom. E não é pra menos. Marca uma ruptura gigante na história da banda: é o primeiro sem Cronos, o carismático vocalista e baixista que ajudou a escrever as páginas mais sujas e blasfemas do metal extremo. No lugar dele, quem assume é Tony “Demolition Man” Dolan, vindo do Atomkraft, que não tenta, em nenhum momento, ser uma cópia do antecessor — e isso, por si só, já merece respeito.
Com Dolan no baixo e nos vocais, o Venom soa mais pesado, mais organizado e até mais profissional. A volta de Mantas, somada ao reforço de Al Barnes na guitarra base, dá um peso absurdo ao som. E, claro, Abaddon segue firme na bateria — daquele jeitão meio desajeitado, mas com a pegada suja e direta que é parte da alma da banda.
Logo de início, salta aos ouvidos a produção — mais limpa, mais clara, com tudo soando de forma direta. Os riffs estão encorpados, a bateria bem mais presente e o baixo preenche perfeitamente os espaços. Isso, claro, gerou debates: há quem sinta falta daquela aura caótica e quase amadora dos primeiros discos, enquanto outros enxergam aqui uma banda afiada, preparada pra encarar a geração do thrash e do death metal que eles mesmos ajudaram, indiretamente, a moldar.
E sejamos honestos: “Prime Evil” é pesado pra valer. A faixa-título já chega com um riff monstruoso, misturando a sujeira do black metal primitivo com uma pegada mais thrash, mais agressiva. “Parasite” e “Carnivorous” são porradas diretas, enquanto “Skeletal Dance” entrega groove e peso na medida certa. E ainda tem espaço pra uma homenagem às origens do metal com um cover muito bem executado de “Megalomania”, do Black Sabbath — mais denso, mais arrastado e, claro, com aquela cara de “isso é Venom”.O álbum também reserva alguns momentos inesperados. “Harder Than Ever” puxa mais pro metal tradicional, enquanto “Into the Fire” flerta com efeitos e texturas que chegam a lembrar uma leve psicodelia. Já “School Daze” bem, é aquela faixa meio deslocada, com uma pegada quase hard rock, que parece vinda de outro disco — mas, curiosamente, funciona dentro dessa salada sonora.
Na época, como era de se esperar, “Prime Evil” dividiu opiniões. Muitos torceram o nariz, sentindo falta do Cronos e da sujeira clássica dos tempos de “Black Metal” e “Welcome to Hell”. Mas, com o tempo, muita gente reviu esse julgamento. Olhando hoje, fica claro que este é um baita disco. É pesado, direto, malicioso — Venom sendo Venom, mesmo de cara nova.
Talvez nunca alcance o status cult dos clássicos, mas quem ouve sem preconceitos descobre uma banda que se recusou a morrer presa ao passado, escolheu se reinventar e seguir fazendo o que sempre fez de melhor: música pesada, suja e diabólica. No fim das contas, “Prime Evil” não é só um disco de transição. É a prova de que o inferno tem muitas formas — e que o Venom, seja com Cronos, com Dolan, ou com quem for, sempre vai te arrastar pra lá.
Em termos de sonoridade, “Prime Evil” conecta o Venom com um público que talvez não se identificasse tanto com os discos mais crus da fase clássica. A pegada mais pesada, mais técnica e mais limpa (sem perder aquele clima sombrio e malicioso) conversa muito bem com fãs de bandas que dominavam o cenário no final dos anos 80 e começo dos 90, especialmente no thrash metal mais obscuro e no blackened thrash.
Para quem é fã daquele black metal primordial — que flerta com o thrash e o speed metal, mas não com o extremismo saturado do black norueguês dos anos 90 — este disco é uma pedida certeira. E, claro, vale também pra quem curte o próprio Venom, mas quer ouvir uma fase em que eles soam mais pesados, mais organizados e, de certo modo, até mais modernos (para os padrões da época). É um prato cheio pra quem gosta daquele metal que vive na encruzilhada entre o thrash, o speed e o black metal primitivo — sujo, malicioso e diabólico na medida certa.
Parabéns Dynamo Records e Classic Metal Records por trazer esse relançamento (e todos os outros) para os fãs brasileiros que aguardavam há tantos anos por esse preciosidade!!!