Thunder – “Dopamine” (2022)
BMG
#BluesRock #HardRock
Para fãs de: Led Zeppelin, Bad Company, Rolling Stones, Free, The Who
Nota: 9,5
O Thunder retorna após o essencial “All The Right Noises” (2021) com a mesma formação dos últimos vinte e cinco anos (Danny Bowes (vocais), Luke Morley (guitarra, harmonica, vocais de apoio), Ben Matthews (guitarra, teclados, vocais de apoio), Chris Childs (baixo) e Gary “Harry” James (bateria)), em seu décimo quarto álbum em mais de três décadas de atividade.
Mas por que Dopamina? Dopamina é um neurotransmissor que atua no sistema nervoso central. Uma de suas principais características é o “sistema de recompensa”. Ao, por exemplo, beber quando se tem sede ou comer quando se tem fome, o cérebro recebe esses estímulos, libera a dopamina e gera a sensação de prazer, influenciando nosso humor e nos dando motivação.
“Dopamine” foi inspirado pela invasão da humanidade às mídias socias durante a pandemia, em uma busca desesperada pela “felicidade”. “Li um artigo fascinante de um psicólogo americano” – diz Morley – “que disse que a mídia social nos torna viciados em dopamina. Somos validados e curtidos nas redes sociais e isso libera a dopamina nos viciando. Tiramos mais e mais selfies na esperança de mais e mais validação e a capa do álbum reflete isso. As pessoas estão cercadas por coisas incríveis que estão perdendo porque são obcecadas em si mesmas”.
Dessa vez a banda optou por um álbum duplo que, como sempre, leva o ouvinte à paisagens pintadas pelas guitarras poderosas de Morley e Mathews, os vocais requintados e cheios de alma de Bowes, o baixo cativante de Childs e uma das melhores performances de James. Durante mais de setenta minutos distribuídos em dezesseis canções, o ouvinte se delicia ao som de grooves viciantes, riffs impactantes, melodias emocionantes e refrões matadores.
Da primeira parte destaco “Western Sky” uma celebração da liberdade contrastando vocais suaves com riffs pesados, enquanto envolve cinematograficamente com sua letra. “One Day We’ll Be Free Again” e seu clima The Who, o blues “Even If It Takes a Lifetime” sobre o racismo com clima de saloon americano, a suave e emocional “Unraveling”, “The Dead City” e seu riff a la AC/DC e o espetacular “slow-burning” “Last Orders” (com Morley nos vocais iniciais).
Na segunda parte, aonde a banda arrisca em outros territórios, temos a alegria contagiante de “Dancing In The Sunshine” e seu clima “Brown Sugar”, o épico jazz/blues de “Big Pink Supermoon” e seu solo de saxofone, o petardo “Across The Nation” sobre como será ao sairmos da pandemia, a soberba “I Don’t Believe The World” sobre a (des)confiança no governo, os danos à saúde mental causados pela pandemia da cativante “Disconnected” e a fragilidade “eltonjohnesca” de “Is Anybody Out There?”.
Um álbum do Thunder nunca foi feito apenas para ser ouvido. A banda sempre convidou o ouvinte à participar da sua jornada e se tornar parte dela. E essa nova jornada encontra a humanidade em uma era dependente da afirmação das mídias socias para ter o sentimento de pertencimento. Pessoas precisando tanto “aparecer” que chegam ao ponto de vestir máscaras e criar “personagens” em uma busca vazia por seguidores e “curtidas”, esquecendo que somos mais do que a quantidade de seguidores e muito mais do que uma lente é capaz de capturar.
“Dopamine” joga tudo isso em um liquidificador de hard rock ecleticamente excitante e liricamente/musicalmente variado, gerando não a rápida dose de um vício, mas um prazer constante que acelera o coração, ativa a mente e nos mostra uma das melhores bandas do mundo em seu estilo no auge de sua forma.
Desafio o leitor a encontrar um álbum de hard rock melhor do que “Dopamine” este ano!
João Paulo Gomes