Atheist – “Unquestionable Presence” (1991) (Relançamento 2023)
Nuclear Blast | Shinigami Records
#DeathMetal #TechnicalDeathMetal #ProgressiveDeathMetal
Para fãs de: Death, Cynic, Obscura
Texto por Daniel Agapito
Nota: 10
Não há dúvida de que o quarteto americano de death metal progressivo começou sua carreira com os dois pés na porta por via de seu álbum de estreia, “Piece of Time”. “Unquestionable Presence”, o trabalho que o sucedeu, mostra clara evolução, conseguindo injetar ainda mais jazz, mas mantendo a mesma brutalidade e agressão presente em seu antecessor. Desde ritmos e riff complexos e nada ortodoxos à linhas de baixo ainda impressionantes (mesmo após o falecimento do baixista Roger Patterson, que esteve com a banda para a gravação de “Piece of Time”) aos vocais de Kelly Shaefer, que mesmo parecendo que vem do fundo da alma se mantêm majoritariamente tônicos, com variações claras de pronuncia, o LP sempre se mantém variado e imprevisível, mas ainda organizado. Comparado ao primeiro projeto dos americanos, “Unquestionable Presence” é mais tradicionalmente progressivo e técnico, porém em momento algum perde sua essência de death metal.
“Mother Man”, faixa introdutória de “Unquestionable Presence” mostra à que a banda veio desde seu primeiro riff. Sua linha de baixo complicada em junção com uma grande demonstração das habilidades de Steve Flynn, baterista da banda, acaba criando uma experiência auditiva relativamente incomum no death metal da época e algo que realmente não é fácil de ser encontrado no gênero até os dias de hoje. O restante da faixa conta com solos técnicos sempre acompanhados de riffs e ritmos complexos na bateria e vocais gritados executados com maestria.
A letra da música tem tudo para ser clássica, pois é completamente atemporal. “Mother Man” aborda o personagem da “mãe homem”, um opositor direto à “mãe natureza”. No quarto verso, é dito explicitamente que “mother earth has fallen to mother man” (“a mãe terra há caído nas mãos da mãe homem) e pouco depois a própria letra diz que “o inimigo é o major, mãe homem, líder sem medo” (“the enemy is the major, fearless leader mother man”) já deixando aparente os temas da letra e reforçando um clima de urgência e objetividade em relação ao estado da terra. No restante da letra, são expostas as mazelas cometidas à natureza pelas mãos do homem e as consequências que já aconteceram e que podem ainda acontecer; um tema bastante relevante em dias atuais, visto a gigante e inescapável crise climática que vem se manifestando nos últimos anos.
Mesmo com a responsabilidade da produção tendo sido assumida pela mesma pessoa do álbum anterior, sendo ele Scott Burns, “Unquestionable Presence” soa melhor, mais claro. Neste segundo trabalho, todos os instrumentos cabem um com o outro, cada um tem o seu próprio espaço; nada soa claustrofóbico. Diferente da produção de piece of time, “Unquestionable” soa menos datado, mesmo só tendo sido lançado um ano após seu antecessor. Uma faixa excelentemente produzida que poderia servir de exemplo para tudo isso é “An Incarnation’s Dream”, a quinta faixa, uma música que (ao meu ver) é uma das mais bonitas da história do death metal. A mistura da introdução calma e profundamente melodica com um violão calmo mas com sons de gritos e bombas ao fundo encapsula perfeitamente o clima criado pelo resto do álbum.
(Resto do disco/capa) O resto do “Unquestionable Presence” segue nesta toada, músicas de death metal agressivas mas que esbanjam grande influência jazz, dando um ar progressivo e técnico à tudo. Com este LP, é realmente muito difícil escolher faixas para destacar, pois são todas incríveis e novamente muito à frente de seu tempo. Como as letras, a capa do álbum também acaba se diferenciando bastante de suas contemporâneas, pois retrata uma criança ajoelhada em uma colina, rezando para duas luas. Esta imagem bonita consegue mostrar muito bem o que o LP em si contém; um metal diferenciado e bonito.
Resumindo, “Unquestionable Presence” é um disco perfeito de death metal. “Piece of Time”, o primeiro trabalho da banda já foi muito bom, “Unquestionable” conseguiu de algum jeito ser ainda melhor. Mesmo as pessoas que não gostam tanto de death metal técnico ou metal progressivo muito provavelmente irão gostar deste álbum, tamanha sua qualidade. É perfeito.
Melhores faixas: “Unquestionable Presence”, “An Incarnation’s Dream” e “Mother Man”