Lymphatic Phlegm – “Roughly Excised – Putrefindings, Morbidescriptions and Necrognoses” (2021)

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Lymphatic Phlegm – “Roughly Excised – Putrefindings, Morbidescriptions and Necrognoses” (2021)

Black Hole Productions
#Splatter #Goregrind #SplatterDeathMetal

Para fãs de: The County Medical Examiners, Carcass, Last Days of Humanity, Pathologist

Texto por Ricardo L. Costa

Nota: 9,5

É no mínimo uma injustiça iniciar essa análise sem antes enaltecer o belíssimo projeto gráfico desse álbum. O negócio é tão bem-feito que consegue transformar todo aquele cenário aterrador e grotesco em algo belo, suntuoso, repleto de detalhes e camadas, com cores vibrantes e texturas marcantes. Certamente, um dos discos mais caprichados nesse sentido que já vi nos últimos tempos.

Ok, mas toda essa dedicação na parte estética de nada adiantaria se o som não correspondesse, não é mesmo? Exatamente, e nesse quesito, o Lymphatic Phlegm é professor. Obviamente, estamos caminhando em terreno espinhoso, acidentado, afinal, a dupla paranaense (Rodrigo Alcântara – guitarra, baixo e bateria e André Luiz – vocal) não faz som para as massas e nem pra concorrer a prêmios de relevância duvidosa. O negócio aqui é destinado a um público específico, de gosto bastante peculiar.

“Roughly Excised – Putrefindings, Morbidescriptions and Necrognoses”, mais recente trabalho do grupo, introduz sua sonoridade doentia, dissonante e indigesta a um novo degrau na escala da musicalidade extrema. O Goregrind/Splatter que sempre foi a essência estrutural de seu som, permanece nauseante e chocante como sempre, no entanto, mais elaborado, por vezes intrincado e até inteligível (digo na parte instrumental, pois o vocal de André Luiz continua desgraçadamente pútrido e pestilento, além de não se entender porra nenhuma do que ele está “cantando”).

Com isso, o Lymphatic Phlegm promove uma abordagem diferenciada de sua música, diferentemente da maioria esmagadora das bandas deste subgênero, que focam apenas no barulho, na carência técnica e em proferir meia dúzia de palavras nojentas e desconexas. O disco em questão, para os padrões do gênero, é amparado por uma ótima produção, certamente proposital para mostrar que até os meandros mais extremos e inóspitos do Metal podem, e devem, se furtar de recursos para promover sua arte da forma correta.

A sonoridade é pesadíssima, extrema e grotesca como o esperado, porém com certo requinte, com notável beleza dentro daquele subtexto, agora, a parte do conceito lírico merecia um capítulo exclusivo. Como dito anteriormente, principalmente nas formações menos experientes do gênero, não basta você proferir nojeiras a esmo sem o mínimo conhecimento, e achar que o ouvinte vai ficar estarrecido. Tem que ter embasamento técnico/científico para tal, ainda mais quando o assunto abordado é a anatomopatologia com ênfase na medicina legal.

Os fenômenos e reações do corpo humano diante das patologias e da morte são dos mais complexos, e poucas bandas conseguem discernir sobre isso tão bem quanto o LP, mostrando que, de fato, os caras estudam sobre o assunto, não são meros curiosos. Não à toa, eles demonstram no próprio encarte e na terceira faixa do álbum toda sua admiração e agradecimento ao The County Medical Examiners, declaradamente uma de suas maiores inspirações, além de agradecer também a dezenas de patologistas de renome histórico, pela sua farta e inestimável contribuição à ciência ao longo dos séculos. 

É referente a isso que advém minha única reclamação para com esse trabalho: a ausência das letras. Imagina o conteúdo didático e científico contido em uma faixa intitulada “Causa Mortis: Transarterial Chemoembolization (Liver Transplantation for Hepatocellular Carcinoma – part 2)” ou em “Cadaveric Entomofauna, Post-Mortem Interval and Death’s Time Determination – Chronological Progression of the Putrescence Phenomena”? É um verdadeiro tratado de patologia clínica e medicina legal!

Concluindo: o Lymphatic Phlegm é uma banda diferenciada no cenário, sendo referência para as demais formações deste segmento e “Roughly Excised – Putrefindings, Morbidescriptions and Necrognoses” só vem a corroborar com este fato, pavimentando fortemente o seu legado na música extrema. Simplesmente magnífico! 

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